sexta-feira, 20 de junho de 2014

Ressignificando as birras: a criação com vínculo é o princípio da não violência (ahimsa) na educação

Juro pra você que eu não acreditava muito quando me diziam que quando Cauã crescesse é que ia dar "trabalho". Hoje percebo como na verdade o cuidado existe de maneira menos intensa do que quando são recém-nascidos, mas incrivelmente mais complexa. Se antes podíamos fazer as coisas quase que no automático hoje exige bastante auto controle e empenho em estudar para lidar com as contrariedades e dar o exemplo, educando.
Antes de ser mãe eu achava que "minha mãe me batia e eu tô aqui viva e tudo bem". Mas quando comecei a ler sobre a criação com vínculo, juro que fiquei chocada como eu pensava assim antes. Não quero ser sobrevivente, não quero que meu filho seja um sobrevivente. E comecei a perceber o ciclo de violência que se formava a partir daí. A opressão, o medo, o descontrole emocional, a falta de equilíbrio dos pais e consequentemente dos filhos.

E tem um grupo novo, do naipe da Supernanny, que não batem. E por isso acreditam que não estão educando com violência. Ao invés disso, colocam no "cantinho do pensamento". Vale ressaltar que as crianças não tem estrutura biológica e nem cognitiva para refletir sobre o que fizeram. Simplesmente não funcionam assim. Então, deixando-as sozinhas para que cheguem a conclusões sozinhas não vai fazer com que compreendam a causa do que fizeram não ser legal para os cuidadores ou para outras crianças. 

Ao invés de punir as crianças, seja por tapas ou castigos, o acolhimento se mostra mais coerente com a estrutura cognitiva e biológica para estruturar a compreensão das atitudes e emoções. Vamos combinar que essa opção também é mais.... Humana, não é mesmo? Falamos tanto da humanização do cuidado, da saúde, da morte, de tudo.... e da educação também.

Recentemente fiz um curso de yoga para gestantes e durante o curso deram o exemplo de criação com limites no estilo de educação mostrada nos programas da Supernanny. Confesso que fiquei um tanto surpresa, achei bastante incoerente. Na yoga falamos, aprendemos e procuramos viver o ahimsa, que é o princípio da não violência. Ele deve estar em todos os aspectos da nossa existência: no falar, no pensar, no comer, no agir e claro no educar. Achei importante colocar a situação da criação com vínculo e outras instrutoras de yoga entenderam inicialmente que era um modo de educar permissivo. Mas depois esclareci que não é.

E não é. A criação com vínculo não tem uma cartilha pronta, mas fornece as ferramentas para que possamos compreender os momentos pelos quais as crianças estão passando, os turbilhões de picos de crescimento, maturação neuronal, motora, dentre outras, para que possamos estabelecer os limites com afeto. Conheço amigas que tem filhos com 3, 6 e 9 anos que nunca se utilizaram de tapas ou castigos para educação e que tem filhos com limites.   

Assim podemos cortar o ciclo da violência. Mostrando que através do diálogo podemos nos entender, podemos ajudar um ao outro a entender melhor os sentimentos e as situações, estreitando o vínculo e promovendo a paz. Isso é ahimsa na educação.

Muitas pessoas desconhecem a criação com vínculo e por isso é de extrema importância que possamos divulgar cada vez mais para que os pais criem uma rede de apoio e troquem figurinhas sobre a criação. Afinal, sabemos o tanto que ma/paternar é um desafio diário e uma belíssima oportunidade de melhorarmos a nós mesmos para sermos bons exemplos pros nossos filhos.

Vale cada minuto ver o vídeo abaixo do programa Em Família do Canal Saúde:


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Um chamado para a revolta: a publicidade é anti-minimalista

Tem um site que eu adoro ler. Principalmente quando me sinto meio down precisando de uma leitura revigorante, corro pra ele. Foi ele, o Leo Babauta que me instigou na busca em ser minimalista. Faz uns 4 meses que estamos nesse movimento aqui em casa, e tem sido uma roda gigante de emoções. Mas antes de falar do que venho vivendo, achei interessante traduzir esse texto dele sobre minimalismo e publicidade publicado nessa semana no site dele, o Zen Habits. Acredito que esteja muito relacionado a muitas coisas que falo aqui no blog. Os textos dele são livres de direitos autorais, porque assim ele acredita que suas palavras alcancem um maior número de pessoas. O nome do texto original é  A Call for Revolt: Advertising is the Anti-Minimalism, que você pode acessar clicando aí no título em inglês.

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O maior obstáculo para uma vida minimalista é a publicidade.

Vamos pensar sobre essa afirmação por um minuto: o que é uma vida minimalista e o que nos impede de alcança-la? Como a publicidade está envolvida?
Uma vida minimalista pode ser muitas coisas, mas em sua essência é tornar-se consciente sobre o que temos em nossas vidas. O espaço é limitado: nós temos horas limitadas em um dia, anos limitados em nossas vidas e espaços físicos limitados em nossas casas.
E nós enchemos todo esse espaço limitado inconscientemente, enchendo-o demais sem considerar ao menos se essa é a melhor maneira para usar nosso espaço.
Minimalismo é sobre pausa, e questionamentos sobre o que realmente é necessário. O que pertence a esse espaço e o que pode ser retirado? É a fantasia em nossas mentes que é a causa para buscarmos preencher inconscientemente a realidade que pensamos que fôssemos viver?
O objetivo da publicidade é exatamente o oposto: ela quer que nós gastemos sem pensar sobre isso. Quer quer compramos no impulso. Quer implantar fantasias em nossas mentes que façam com que saiamos e compremos.
Pense sobre um anúncio para roupa, ou para um produto da Apple, por exemplo: eles mostram lindas pessoas vivendo vidas maravilhosas, centrada na solução simples de possuir o produto em suas mãos (ou em seus corpos).
Anúncios para um sabão fazem com que pensemos que nós não teremos somente uma pele limpa, mas uma maçã do rosto perfeita e um namorado bonitão que nos ama.
Anúncios para um novo aplicativo fazem com que pensamos que de repente seremos mais organizados e mais produtivos e todas nossas necessidades serão magicamente sanadas com esse programa muito bem desenhado em nosso smartphone.
Obviamente, nada disso é verdade – nós não seremos mais organizados nem produtivos, nem mais saudáveis e bonitos, nem mais propensos a ter um(a) namorad@ bonit@ se comprarmos qualquer um desses produtos. Seremos apenas mais pobres com mais coisas para encher nossas já tão cheias vidas.
O pior da publicidade é que não só implanta fantasia em nossas mentes que nós instantaneamente queremos... como também nos dá uma sensação de vazio. De repente não nos sentimos completes, nem felizes, porque não vivemos a vida ideal. Nós não somos bons o suficiente ainda. Nós não somos felizes ainda.
E comprar não irá melhorar esse vazio. Nós compramos, e ainda não temos a fantasia, e então nos sentimos mal sobre nós mesmos. Nós ainda temos o vazio em nossos corações que nunca poderá ser preenchido.
Publicidade é o sussurro insidioso do anjo mal do comércio.
Eu não culpo os publicitários: eles foram pegos em um jogo onde eles tem que fazer publicidade ou morrer. Eu não culpo os consumidores: essa é a sociedade em que vivemos e nós nunca vivemos de uma maneira diferente.
Eu não culpo nem as agências de publicidade: os Googles e Don Draper do mundo só estão tentando fazer grana como tomo mundo, e descobriram o que funciona. Por que não fazer o que é eficaz, né?
Não culpe o jogador. Culpe o jogo.
Estamos presos em um jogo no qual temos que fazer mais dinheiro e consequentemente fazer propaganda, e para ser eficaz nisso precisamos introduzir fantasias inalcançáveis, um sentimento de vazio que não pode ser atenuado.
Estamos presos em um jogo onde o processo inteiro é OK com todo mundo, na verdade porque os mais bem-sucedidos são aplaudidos - Steve Jobs, Jeff Bezos, Barack Obama, Larry Page, Mark Zuckerberg, Steven Speilberg, Walt Disney, et al – eles são os vencedores de nossa sociedade. Nós endeusamos eles.
As pessoas que fogem desse jogo são ridicularizadas e taxadas pejorativamente de hippies, esquisitões e vagabundos.
Eu digo que devemos sair desse jogo. Pegue ele pelo cinto e mande-o para a calçada.
Eu acho que devemos nos revoltar.
Nós podemos nos revoltar simplesmente escolhendo sair disso. Eles não tem uma opção de entrada no formulário desse jogo, mas nós mesmo assim podemos sair mesmo sem terem nos dado essa possibilidade.
Nós podemos fugir não assistindo propagandas. Não tendo elas em nossos sites. Não comprando ingressos pra filmes que são simplesmente propagandas inteligentes. Não acreditando nas fantasias. Não comprando por impulso. Não usar como terapia ir às compras. Não usar compras como uma solução para tudo. Não apoiar as mídias que apenas estão lá para que leiamos os anúncios entre as estórias. Não indo a sites que tenham propagandas com popups intrusos. Não ouvindo a propagandas da radio. Não assistindo vídeos online que tenham propagandas. Não usando o email com propaganda. Não utilizando logos em nossas roupas. Não tatuando logos em nossos corpos. Não indo para parques temáticos que são apenas grandes propagandas para seus produtos. Não comprando quando estamos de férias. Não comprando presentes para celebrar datas. Não comprando smartphones por causa de anúncios que vimos. Não comprando roupa ou maquiagem ou produtos para a pele que façam com que pareçamos com a fantasia. Não lendo revistas que tentam fazer com que tenhamos uma fantasia de como deveríamos parecer. Não assistir a programas de TV patrocinados por anúncios.

Parece muito? Sim, eu concordo: estamos muito impregnados em propagandas. Não podemos sair deles. Somos dependentes. A revolta é muito revoltante. De volta a sua programação regular programada

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Seu discurso é contra produtivo?

Cauã enfia o dedo na tomada. Eu digo Não faça isso Cauã, machuca. Ele faz de novo. Eu digo Cauã, Não. Ele faz de novo. Eu digo com a voz alterada Cauã, NÃO pode. Ele continua. Chego a conclusão de que não adianta perder a cabeça, gritar e se estressar. Estou sendo contra produtiva. Não estou oferecendo outras opções mais interessantes que a tomada naquele momento. Tomo consciência, olho ao redor e peço pra ele pegar a bolinha do gato que estava no corredor. Ele vai, joga e começa a brincar comigo e o gato. Não volta pra tomada. 
Tem tantos momentos na nossa vida que somos contra produtivos. Algumas pessoas costumam ser na maior parte do tempo. Mas quando estamos vivendo conscientemente de nossas ações, muito dificilmente aceitaremos viver sendo contra produtivos. Porque ser contra produtivo cansa bem mais do que não ser. Exige maior energia em tentar se fazer entender e acabamos escolhendo vias negativas para conseguir uma comunicação eficaz, geralmente nos impondo através do grito, da grosseria. E aí as coisas tendem a ficar bem mais pesadas e desagradáveis. Lembro que quando comecei a ser ativista da Humanização do parto, tinha a errônea concepção de que as mulheres que faziam cesáreas e que tinham um discurso cesarista fossem pessoas más. Depois de amadurecer e de me informar, consegui sair do papel da dualidade de bomXmau e passei a perceber como era ruim pra mim entrar em debates contra produtivos com pessoas que não estavam a fim de compartilhar, ouvindo e falando, mas de impor o que acreditavam. E eu era uma dessas também. Queria impor. Agora não faço mais isso. Me consumia um montante de energia que agora escolho empregar pra fazer a informação chegar através de ações educativas aonde ela não está chegando:nas mulheres. Em outras esferas da nossa vida também podemos ser contra produtivos: nos relacionamento quando não falamos abertamente o que sentimos, quando estamos obcecados por algo que por algum motivo de ordem superior (destino? Deus? Energia cósmica ou como queira chamar) não acontece nunca, quando entulhamos nossas casas e armários de coisas além do que é realmente necessário (apesar de quantitativamente isso ser subjetivo), quando pensamos demais e não agimos nunca, quando não cuidamos da nossa saúde, da nossa alimentação, da nossa mente.... Ou quando o medo nos paralisa. Para mim a maternidade se mostra sempre como agente catalisador de mudanças positivas, e viver conscientemente em todos os aspectos da minha vida tem feito a minha vida melhor e bem mais produtiva. Quando digo produtiva, não me refiro à conotação negativa do modus operandi capitalista. Quero dizer que me tornei mais consciente do que quero fazer aqui, de quanto e como gasto minha energia, meu tempo de maneira a tornar a vida mais leve e feliz de acordo com meus valores e crenças de agora. 
E você? Já percebe quando é contra produtivo? Onde gasta mais energia?