sábado, 9 de novembro de 2013

Carta a uma amiga que passa das 40 semanas de gestação

                                                        
A maternidade é uma coisa tão maravilhosa, tão bela e tão transformadora quando a gente permite mergulhar nesse oceano de turbilhões. Na gestação a espera é linda e um pouco solitária. Pelo menos me pareceu pra mim. Assim como você eu também lutei toda a minha gestação para ter um parto natural. Mas parece que encontrar apoio é bem mais difícil do que encontrar histórias macabras de conhecidos sem fim de folclores míticos resultado desse histórico dessa assistência de merda ao parto que temos no Brasil. Infelizmente, a grande maioria das pessoas não entende que é possível parir com dignidade, beleza e respeito onde a gente escolhe parir. Mas aconteceram tantas coisas ao longo da gestação e mais precisamente no finalzinho que me deixaram muito vulnerável emocionalmente. Lhe escrevo porque sei como é: o cansaço do peso, das pernas, o tampão saindo de pouquinho ou de muitinho (mas ele se regenera), uma contração aqui outra acolá... vários sinais de que a hora está chegando, mas ela parece que nunca vai chegar. A vontade de ficar com a barriga pra sempre e a vontade de ver logo nosso bebê fora da barriga. De viver logo aquilo de verdade. Enquanto tá na barriga parece muito teoria e no final a gente quer a prática quer ver o rostinho, a mãozinha... E se não bastasse os turbilhões de emoções que nos invadem por inteiro: um mix de ansiedade, medo, curiosidade e euforia, @ companheir@, a família, os amigos vão perguntando, querendo saber: nasceu? Poxa, sistema filhadaputa esse. Até o bebê tem que nascer logo. Algumas pessoas tem a audácia de cobrar o tempo, como se tivesse prazo de validade. Gravidez não tem prazo de validade. Tem prazo que o bebê quem dá. Seguindo monitorando, escutando, sentindo o bebê, a gente vai seguindo com ele na barriga até ele dizer: pronto, tô pronto. E a hora é dele. E da mãe. E só. Da gente você só quer respeito e paciência e apoio. Tô aqui amiga. Eu mesma vivi uma pressão muito chata quando caminhava pras 42 semanas. Eu não escutei meu corpo, não dei um pé na bunda da obstetra que insistia em procurar uma coisa pra justificar a retirada do meu bebê. E até hoje e sempre vou me perguntar como teria sido se tivesse tido essa sabedoria. O evento do parto é o seu renascer. Viva lindamente esse momento e saia fortalecida desse processo tão maravilhoso e transformador. Se permita se fortalecer nesse finalzinho! Não deixe que roubem esse momento de vocês. Que os espíritos de nossas ancestrais te acompanhem na boa hora e te envolvam de paciencia e coragem para parir linda onde você escolher. O tempo.... é seu.

Cheiro de jasmim.